A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu a fabricação, importação, comercialização e uso de termômetros e esfigmomanômetros (aparelhos de pressão arterial) com coluna de mercúrio em serviços de saúde no Brasil. A decisão da proibição do termômetro de mercúrio foi oficializada com a publicação de uma resolução no Diário Oficial da União no último dia 24 de setembro, estabelecendo um marco importante na proteção à saúde pública e ao meio ambiente.
Os termômetros de mercúrio, criados no século XVIII, utilizam o mercúrio devido à sua capacidade de se expandir proporcionalmente à variação de temperatura, o que garante medições precisas. Contudo, os riscos à saúde e ao ambiente pesaram na decisão da Anvisa, que visa prevenir envenenamentos e contaminações ambientais.
O mercúrio e sua função nos termômetros
O professor Juliano Martins Barbosa, engenheiro de materiais da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), comenta sobre as propriedades do mercúrio que o tornavam ideal para a medição de temperatura. “O mercúrio é utilizado em termômetros por se manter no estado líquido por uma ampla faixa de temperatura (entre -39 °C e 357 °C). Ele se expande de forma regular e proporcional às variações de temperaturas, permitindo uma medição precisa. Além disso, sua cor metálica e brilhante facilita a leitura e, por não aderir ao vidro, proporciona medições claras”, explica Juliano.
Riscos do termômetro de mercúrio à saúde humana
A Dra. Wilma Lilia de Castro, pediatra da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná (FEMPAR), alerta para os perigos que os termômetros de mercúrio representam à saúde. “No caso da quebra do termômetro, o mercúrio pode ser absorvido pela pele, inalado ou ingerido, o que pode causar envenenamento. Pouco tempo de exposição ao mercúrio já pode causar sequelas pulmonares e um tempo maior de exposição afeta o sistema nervoso central e a tireoide, trazendo sintomas como tremores, alterações de humor, problemas cognitivos e perda de coordenação”, detalha a médica.
Impacto ambiental do mercúrio
O professor Rogério Machado, do curso de Engenharia Química, explica que, uma vez liberado no meio ambiente, o mercúrio metálico, quando absorvido por vegetais, pode virar mercúrio iônico, que se ingerido por um peixe, este é metabolizado a metilmercúrio, que por sua vez é uma forma altamente tóxica que se bioacumula na cadeia alimentar.
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Machado ainda alerta que “o metilmercúrio contido num peixe, por exemplo, é absorvido entre 95 e 99% pelo organismo humano. O mercúrio não tem função no organismo humano, portanto, por ser um metal tóxico, antigamente chamado de metal pesado, este fica retido nos nossos filtros naturais, como rins, fígado e baço.”
Alternativas mais seguras ao termômetro de mercúrio
Atualmente, há no mercado alternativas mais seguras, como os termômetros digitais e infravermelhos. Estes últimos, amplamente utilizados durante a pandemia de Covid-19, permitem a medição da temperatura corporal sem contato, reduzindo os riscos de contaminação e exposição a substâncias tóxicas como o mercúrio.