Muito se fala sobre a chegada de um segundo filho. A teoria é sempre linda mas, na prática, inexiste um “passo a passo” que possa ser seguido por todas as famílias. Em geral, as orientações falam sobre a atenção que deve ser dada ao filho mais velho, esclarecem como o tempo dos pais deve ser dividido – embora obviamente o recém-nascido demande mais atenção – e assim por diante.
No entanto, nem todas as crianças reagem da mesma maneira. “Algumas crianças regridem, retomam o uso de chupeta e voltam a fazer xixi na cama. Outras ficam tão felizes com a novidade e mal sentem ciúmes. Há também pequenos que, assim como o meu filho mais velho, têm vontade de bater no recém-chegado e, embora não batam, certamente é a maneira que encontram para expressar suas emoções”, explica a psicoterapeuta especializada em crianças e adolescentes e Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, Helen Mavichian.
“A única certeza que se tem é que a chegada de um novo membro na família mexe com os primogênitos, que antes tinham tudo apenas para eles e, agora, precisam dividir atenção, colo e disposição. Mas e se rolar o ciúmes?”, indaga a especialista, que tem dois filhos e que, como psicóloga infantil, está acostumada a orientar pais sobre o tema, além de ter vivido a experiência. “Por aqui, o ciúmes chegou em forma de birra. O mais velho quer impor suas vontades em tudo e, quando contrariado, faz um dramalhão. Está sendo necessário muito diálogo e paciência para não ceder. Por exemplo, se ele insiste que quer alguma coisa, explico os motivos da negativa e dou outras opções para que ele aprenda sobre escolhas”, conta.
Helen listou algumas dicas (abaixo) para que pais e mães acolham as emoções dos primogênitos. “Quer saber o que pode ser feito antes para preparar um filho ou uma filha para a chegada do ‘novo no ninho’? Faça ele ser parte do processo!”, explica.
Trabalhe a inclusão
O mais importante é fazer com quem o primogênito se sinta incluído. Mostre à criança que ser o irmão mais velho é motivo de orgulho. Deixe que dê opiniões e considere o que ela está dizendo.
Antecipe mudanças
Tenha paciência com os sentimentos do filho mais velho, não julgue e esteja pronto para ouvir. Se possível, realize todas as mudanças e ajustes necessários na dinâmica da família antes do nascimento do bebê. Dessa forma, você evitará que a criança relacione a chegada do segundo filho com essas alterações.
Observe mais
Esteja atento a qualquer alteração de comportamento da criança e observe suas falas e reações. Lembre-se que os pequenos mal sabem expressar suas emoções, então, as demonstram por meio de atitudes. Caso a criança comece a reagir mal ao bebê, demonstre agressividade ou desgosto, se isole em momentos com a família, tenha falas que demonstram incômodo em relação ao novo irmão ou irmã, se posicione sempre na defensiva ou reage com ciúmes, isso pode atrapalhar o convívio e o bem-estar de toda a família. Pode ser a hora de buscar ajuda profissional de um psicólogo(a).
Converse sempre
É necessário também avaliar como anda o desenvolvimento da criança em todos os aspectos, ou seja, como está seu rendimento na escola, se tem conflitos frequentes com os colegas de sala, familiares ou outras crianças. As crianças podem apresentar mudanças comportamentais e socioemocionais em outras situações. Nesses casos, o melhor caminho é conversar, tentar entender o que aconteceu, como se sentiu, etc.
Leia também: Como preparar uma lancheira saudável para a minha criança?
A psicóloga explica ainda que, apesar das sugestões acima, vale lembrar que não há uma “receita” universal que seja sucesso em todos os lares. O que existe é entender o que seu filho está sentindo e precisando, o que pode ser colo, pode ser mais tempo com a mãe, com o pai ou até mesmo com os avós. Pode ser também ficar mais perto do irmão que, às vezes, pode estar cercado de cuidados e, sem querer, afastado do convívio com o irmão.
Segundo Helen, o cansaço da mãe é gigantesco nos primeiros meses, “mas um olhar acolhedor para que a recepção do novo membro seja harmoniosa e sem ‘tumulto’ pode fazer toda a diferença nessa fase inicial. ‘Ah, mas isso é muito cansativo!’. Sim, tenho certeza que é, mas se você deseja criar um adulto saudável, dedique-se a ressaltar na sua fala e comportamento que a chegada do irmão ou irmã não muda o relacionamento com os pais e que cada filho será amado da mesma forma”, finaliza.